Sinopse: Folhas Caídas, vindas a lume em abril de 1853, e Flores sem Fruto, publicadas dezasseis anos antes, espelham a conturbada interioridade do poeta, um ser dominado por sentimentos contraditórios, dividido entre a imagem ideal do amor e a turbulência da paixão sensual.
Os poemas destas duas coletâneas, imbuídos de uma vivência erótica até então nunca confessada, constituem um marco inovador na expressão do sentimento amoroso.
Comentário:
Gostei desta colectânea de poemas. Pelo que entendi são os mais conhecidos, talvez por também serem os mais acessíveis ao público em geral. Vou partilhar os meus dois favoritos:
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Coquete dos prados,
A rosa é uma flor
Que inspira e não sente
O Encanto de amor.
De púrpura a vestem
Os raios do Sol;
Suspiram por ela
Ais do rouxinol:
E as galas que traja
Não as agradece,
E o amor que acende
Não o reconhece.
Coquete dos prados
Rosa, linda flor,
Porque, se não o sentes,
Inspiras amor?
Poema "Coquete dos Prados" in Folhas Caídas 🍂
***
Tu morreste por nós na cruz da afronta,
E o sangue derradeiro
Derramaste do alto do madeiro,
Jesus, filho de Deus, Deus verdadeiro!
Aos crimes do homem não lançaste a conta,
Inocente cordeiro,
Quando foste no alto do madeiro
Lavar, com sangue, o último e o primeiro.
E naquela hora o mundo foi mudado:
A antiga, frouxa luz
Se apagou no calvário ao pé da Cruz;
E agora é novo sol o que reluz.
Por desiguais direitos, afrontosos
Para o pobre que lida,
Que trabalha, que sua pela vida,
Andava a Terra pelos reis regida.
Vãos sabedores, ricos poderosos
A que tinham submetido
Ao erro torpe que embrutece a vida
E que apaga a razão n'alma perdida.
Acabaram-se as leis dos reis da Terra;
E esta só lei ficou:
«O Rei que está na Cruz nos libertou,
E com o Seu sangue a todos igualou.»
♰
Poema "Redentor" in Flores sem Fruto 🌱