Autor: Maria João Lopo de Carvalho
Edições: Oficina do Livro
Nº de Págs.: 184
Ano de Edição: 2005
Classificação: Romance
Sinopse por Inês Pedrosa: «"Adopta-me" fala da vida verdadeira, dos meninos sem amor e dos amantes sem dinheiro, de pessoas embrutecidas pela miséria e de pessoas que não desistem de lutar pelos seus sonhos. É um livro militante e desassombrado, generoso e terno, cândido e cáustico - exatamente como a Maria João.»
Comentário
Recebi este livro através da plataforma Winkingbooks.
É um bom livro sobre a inconformidade com o sistema de ação social implementado no nosso país, cheio de burocracias; mas também é um livro sobre as deficiências que existem nas famílias. Ora, se a família é a base da sociedade, então é necessário criar políticas que protejam e promovam a família nos mais variados contextos, com o objetivo a longo prazo de reduzir as crianças de rua e/ou institucionalizadas, reduzir o número de pessoas sem abrigo, incentivar as empresas à contratação de jovens e de estrangeiros, promover o trabalho justo e condigno junto dos pequenos comerciantes e empresários, apoiar os estudos até ao ensino superior. O mote é erradicar a pobreza de espírito, abrir horizontes e criar oportunidades para melhores condições de vida! A toxicodependência, a mendicidade, a prostituição, os assaltos, o abandono escolar... são os cancros da sociedade que devem ser combatidos com a espada em punho! Pelo menos, é o que a personagem principal deseja, mas nem sempre a força de vontade move as montanhas de papéis burocráticos...
A autora Maria João foi assessora para a área da educação e ação social na Câmara Municipal de Lisboa e este livro é o retrato desta sua aventura. Reconheço que não é um trabalho fácil e não me imagino de todo a desempenhar funções semelhantes. Ser assistente social ou técnica da comissão de proteção de menores também não é para mim. Tenho quase a certeza que eu não conseguiria fazer uma boa gestão das emoções.
Para além deste quadro nada famoso da sociedade, a autora mistura com os acontecimentos um relacionamento amoroso e secreto entre a personagem principal e um homem que conheceu em Marraquexe, por sinal casado e com filhos. Penso que veio aligeirar o drama associado ao trabalho como assessora, dando um toque de ficção ao livro. Até porque também existem coisas boas na vida e há que saber aproveitá-las.
Por fim, recomendo a sua leitura!
Citações
"O cansaço leva-me à procura de refúgio nos lugares bonitos da cidade. Gosto do cais. Das colunas e do cais. De ver barcos a chegar e barcos a partir. Gosto do som dos barcos. Gosto de reboliço, de gente que não me procura nem procura outra coisa senão a pressa das horas certas. Gosto particularmente de me esquecer do tempo. O rio é um apelo e um refúgio para me esquecer do tempo. Sempre que ali me deixo ficar a desfiar memórias, contemplando outras vidas e medindo a temperatura dos sonhos, vejo que o Terreiro do Paço é a praça mais bonita do mundo."
"O que guardo de Marrocos é a cor. E a luz. A poeira suspensa no ar, em redemoinhos lentos, a desenhar círculos de ouro nas bermas da estrada, um camelo lentamente a arrastar o tempo vagaroso. O tempo para não fazer nada. (...) E as pessoas gostam de nós assim, devagarinho, como se tivéssemos todo o tempo do mundo para sermos gostados. E sabem muito mais do que nós. Sabem que a luz se confina ao fim do dia, uma e outra vez ao ritmo da oração, e que isto é uma verdade tão evidente como a terra, as gentes, a maneira de viverem ao som de lendas, cantadas nas ruas de uma geração à outra, vendendo, comprando, trocando. (...)
Em Marraquexe as pessoas riem com olhos. Podem passar horas a fio a tecer tapetes nas bermas de uma rua magra ou a bater a curva toldada do cobre, mas estremecem de riso e fazem-no com os olhos numa doçura clara que nos rasga a alma. Foi isto que senti. Desejo. Continuar parada no tempo, Inch'Ala. Oxalá."
Referências
📌 Sobre a autora na Wikipedia.
📌 Livros à venda na WOOK.
📌 Entrevista com Maria João Lopo na Revista Caras.
Desafio Literário:
📚 Escapadela Literária 2024 na categoria «Leitura Livre» porque apesar do tema do livro não ser propriamente leve, a personagem principal faz uma viagem a Marraquexe onde encontra um amor; e viaja/passeia constantemente por Lisboa à procura de um outro amor.