Chico Buarque reinterpreta nesta pequena história em verso o conto da Capuchinho Vermelho. Aqui, a protagonista é uma menina a quem chama Chapeuzinho Amarelo porque, claro, o usa sempre na cabeça. Mas debaixo dele, a cabeça está cheia de medos. Por causa deles, acaba por se privar de quase tudo. Mais do que tudo, tem medo do Lobo, até ao dia em que o encontra, e acaba por vê-lo apenas como… um bolo!
Publicado pela primeira vez em 1979 no Brasil, esta história de superação e amadurecimento ganha agora em Portugal uma nova e original edição, muito valorizada pelas ilustrações de André Letria. É difícil resistir a este poema em catadupa, de que deixamos aqui os primeiros versos:
Era a Chapeuzinho Amarelo
Amarelada de medo.
Tinha medo de tudo,
aquela Chapeuzinho.
Já não ria.
Em festa, não aparecia.
Não subia a escada
nem descia.
Não estava resfriada
mas tossia.
Ouvia conto de fada
E estremecia.
Não brincava mais de nada,
Nem de amarelinha.
Tinha medo de trovão.
Minhoca, pra ela, era cobra.
E nunca apanhava sol
porque tinha medo da sombra.
Não ia pra fora pra não se sujar.
Não tomava sopa pra não ensopar.
Não tomava banho pra não descolar.
Não falava nada pra não engasgar.
Não ficava em pé com medo de cair.
Então vivia parada,
deitada, mas sem dormir,
com medo de pesadelo.
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