Morreu o escritor norte-americano Paul Auster


O romancista norte-americano Paul Auster, autor de obras como "A Trilogia de Nova Iorque" e "Cidade de Vidro", morreu esta terça-feira aos 77 anos na sua casa, em Nova Iorque, vítima de cancro do pulmãoEm declarações à TSF, Paulo Branco, produtor português de cinema, recorda Paul Auster como um "génio", uma pessoa com uma "enorme generosidade" e com um "grande fascínio pelo cinema".
Em Portugal, Paul Auster tem grande parte da obra publicada, em particular os romances, como "Mr. Vertigo", "Palácio da Lua", "Música do Acaso", "Leviathan", "A Trilogia de Nova Iorque", "Timbuktu", "O livro das ilusões", "As loucuras de Brooklyn", "O homem na escuridão" e "4 3 2 1", com o qual foi finalista ao Booker Prize.
Assinou a realização de um par de filmes, incluindo "A vida interior de Martin Frost" (2007), rodado parcialmente em Portugal.
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Os seus romances, ensaios, diários e filmes, criaram-lhe uma aura literária singular desde os anos 1990.



Há três anos, por ocasião do lançamento do seu novo livro, Um Homem em Chamas – A Vida e a Obra de Stephen Crane, biografia dedicada a um herói literário esquecido, deu esta entrevista à VISÃO, que agora republicamos. Nela, evoca outras paragens: a América de Biden, a velhice que o apanhou de surpresa e o falhanço da literatura em salvar o mundo:

(pequeno excerto)

Um Homem em Chamas assemelha-se, muitas vezes, a uma masterclass sobre a escrita. De que forma os ensinamentos contidos em 800 páginas chegarão a uma geração “educada” com 120 caracteres?
Bem, já posso dizer que sou historicamente irrelevante [risos]. A atenção que este livro vai ter agora é seguramente menor do que seria se tivesse sido editado há 15 anos. O mundo mudou, especialmente nos EUA: a cultura já não quer saber da literatura. Não é que não tenhamos grandes escritores e leitores. Mas, por várias razões complicadas, que nem conseguimos abordar aqui, a literatura e os escritores já não fazem parte da conversa nacional; é tão simples quanto isso. Na maior parte dos países ocidentais, assim como na Ásia, os povos conhecem os escritores dos seus países, debatem as suas obras, estão interessados em ouvir o que têm para dizer sobre o que se passa à nossa volta, os autores estão presentes na televisão e na rádio e escrevem artigos nos jornais. Na América, ninguém quer saber: se eu perguntar o nome de um romancista americano a alguém na rua, não saberia do que estou a falar. Há tantas formas novas de distração que a ideia de estar sentado e ler um livro com 800 páginas é impensável para milhões de americanos.

Participou na plataforma Writers Against Trump que, após as eleições presidenciais, alterou o nome para Writers for Democratic Action. Neste momento, há leis como a do aborto a serem revistas, livros a serem proibidos em escolas… Quais são os seus sentimentos atuais em relação à América?
Estamos divididos ao meio, e nunca vivi um momento tão assustador como este. Estamos em perigo de nos tornarmos um país autoritário, e isso seria uma tragédia. A América nunca foi o país ideal que gostamos de promover no resto do mundo. Mas, nem que fosse por princípio, nós defendíamos essas ideias. Agora, estamos a perdê-las rapidamente. O meu único consolo é que nós somos mais do que eles. A maioria não deseja isso, mas uma minoria quer dar cabo de tudo – e é perigosa. Parte do problema na América é que a forma como o país foi construído permite que a minoria controle o Estado. Hoje, ainda estamos a enfrentar estes impedimentos constitucionais estruturais, e a direita radical está a aproveitar-se destas falhas no sistema para assumir o controlo sobre a maioria. Isso é muito frustrante.


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