Por Analita Alves dos Santos
Perder a fé nem sempre significa deixar de acreditar em Deus. Às vezes, a primeira fé que se perde é em nós mesmos. Noutras ocasiões, o amor desmorona, a esperança dissolve-se e a literatura torna-se uma forma de presença — não nos salva, grita bem alto «presente».
Nestes momentos, não procuramos livros que ofereçam soluções, só compreensão. Por vezes, uma frase basta para nos sentirmos acompanhados. Outras vezes, precisamos apenas de uma página que não nos minta.
O Homem em Busca de um Sentido é um desses livros inabaláveis. Escrito por Viktor E. Frankl, que sobreviveu a Auschwitz e viu desaparecer toda a sua família, carrega uma lucidez que recusa o desespero. Frankl não escreve para consolar: partilha o que descobriu no limite da existência — que o ser humano precisa de um «para quê», que o sentido não é um luxo, mas fator de sobrevivência.
A leitura deste livro não nos protege da dor. Proporciona-nos um mapa para seguir adiante, pois, mesmo no vazio, há possibilidade de reconstruir sentido. Nem sempre reencontramos Deus. Talvez encontremos a vontade de cuidar de alguém, de escrever ou, simplesmente, de não desistir. Ao longo do texto, Frankl descreve também a criação da logoterapia, uma abordagem terapêutica centrada no sentido da vida. O seu testemunho é, ao mesmo tempo, íntimo e universal, e permanece como um dos livros mais transformadores já escritos sobre sofrimento e transcendência.
O Abismo Vertiginoso, de Carlo Rovelli, leva-nos noutra viagem: à natureza da realidade. Este é um livro que parece tratar de física e fala de desconcerto: do que escapa à lógica linear, das ligações invisíveis que nos constituem. Não há respostas absolutas, apenas um convite para aceitar a incerteza como parte da beleza do mundo.
Quando se perde a fé, este tipo de leitura afigurar-se-á um abrigo. Porque, por vezes, não queremos ser convencidos de nada; queremos apenas escutar uma inteligência que não nos simplifique. Rovelli constrói uma ponte entre ciência, filosofia e poesia, mostrando que a realidade, assim como a vida, não se revela em linhas retas, mas em relações e interações. É uma leitura desafiante e profundamente estimulante, que nos obriga a rever a ideia de «certeza».
Sobre a Morte e Morrer, de Elisabeth Kübler-Ross, oferece-nos uma coragem rara: a de olhar o fim nos olhos. A sua abordagem às cinco fases do luto não é um protocolo emocional. É uma forma de dar espaço ao que mais nos assusta. Este livro não nos ensina a evitar a dor; mostra que ela tem lugar, tem tempo e um nome.
Para quem perdeu um amor, um futuro, um sentido, ler este livro será, quiçá, um ato de reconhecimento e, talvez, o primeiro gesto para aceitar que a dor também é uma forma de continuar a amar. A autora recorre a décadas de experiência com pacientes terminais, revelando a importância da escuta ativa e da presença humanizada nos momentos finais. O livro permanece atual e necessário, sendo usado em hospitais, centros de saúde e também fora deles como guia para compreender os nossos lutos.
O Teu Êxito é Inevitável, de Maïté Issa, propõe uma mudança interior através da manifestação. Eis um livro que dialoga com a fé de forma distinta: diz-nos que somos cocriadores da realidade e que o pensamento pode ser moldado e transformado. Distante dos anteriores, todavia, aproxima-se deles ao afirmar que o sentido permanece possível, mesmo após a queda.
É um livro que não evita palavras e conceitos como «êxito» ou «abundância» e que também reconhece os bloqueios que nos impedem de os alcançar. Ao incluir exercícios práticos, não promete milagres; convida-nos a assumir uma postura ativa. Com uma linguagem acessível e motivadora, a autora estrutura o texto de forma progressiva, ensinando-nos a identificar crenças limitadoras e a substituí-las por narrativas internas mais férteis. Uma leitura que apela à ação e à responsabilidade pessoal, sem perder a dimensão espiritual.
O Pequeno Livro do Ikigai, de Ken Mogi, apresenta-nos uma filosofia japonesa centrada no propósito. Pequeno apenas no tamanho, este livro é uma entrada para uma vida mais silente e significativa. Começar pelas pequenas coisas, viver aqui e agora, encontrar harmonia — princípios aparentemente simples, talvez tudo o que nos resta quando o resto falha.
Fundamentado na observação da cultura japonesa e enriquecido por estudos em neurociência, Mogi introduz os cinco pilares do ikigai com delicadeza e precisão. Não se trata de uma fórmula de felicidade instantânea. Trata-se de um caminho feito de constância e atenção, no qual a beleza do quotidiano tem lugar.
Deixa Estar, de Mel Robbins, lembra-nos que há momentos em que a fé não regressa por esforço, e sim, pela rendição. O controlo apresenta-se como uma ilusão cansativa; muitas vezes, o maior ato de fé é permitir que a vida nos fale, em vez de tentarmos impor-lhe a nossa voz.
Baseado na chamada Teoria Deixa Estar, propõe uma nova abordagem ao bem-estar emocional: menos esforço, mais autenticidade. Robbins, conhecida pela clareza com que comunica ideias complexas, encoraja-nos a abandonar o que não nos serve e a recentrar a atenção naquilo que realmente controlamos — as nossas escolhas. Uma proposta prática e libertadora para quem já tentou tudo.
Estas obras não acarretam respostas definitivas, mas fazem-nos repensar. E, quando se perde a fé, isso pode bastar para que ela encontre caminho de volta — não como antes, mas com outra forma, outra designação. E talvez isso seja tudo o que precisamos em determinados instantes da nossa existência.
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