WOOKACONTECE: Um pequeno exercício e uma pequena meditação


A Flor Cadáver – e outros poemas de Jorge Sousa Braga – autor premiado com o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura Infantil por Herbário – somos confrontados com a reflexão do poeta sobre o corpo, a nossa relação com ele e a maneira como lidamos com a sua função mais incómoda: o defecar. Um pequeno tratado em verso que reúne ainda algumas composições inéditas, certamente relacionadas (ou não?) com o núcleo do livro.
Exercício e Meditação são dois dos poemas inéditos deste novo livro.


EXERCÍCIO

Não sei quem me ensinou a voar
não sei quando comecei a voar

mas lembro-me nas primeiras tentativas
de me estatelar no chão

Aprendi a voar sem asas
aprendi a caminhar sobre brasas

aprendi a caminhar sem ter chão

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MEDITAÇÃO

Não há melhor lugar para meditar
do que a cauda de um tufão

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WOOKACONTECE: «O urso americano», um poema de Filipa Leal



Adrenalina é o novo livro da poetisa e argumentista Filipa Leal. Neste poemas inéditos, a autora faz o balanço de uma vida que passa, quer queiramos ou não, acelerada e intempestuosa, da qual extrai pequenos e grandes momentos que versa em tons que vão do humor à introspeção. Para abrandar a adrenalina dos dias, Filipa Leal versa sobre a família, a amizade e o amor, numa espécie de polaroides biográficos capazes de combater as agruras dos dias.
Antes que os ursos vão hibernar este inverno, conheça este «urso americano», uma prova do quão importante é rirmo-nos de nós próprios. E do quanto a vida nos surpreende, sempre.


O URSO AMERICANO

É o único urso da América Latina,
narrava o locutor da National Geographic
quando entrei na sala do meu pai.
O meu pai sempre gostou de ver estes programas,
pegou-me a mania.
Sentei-me, perplexa, a olhar para o urso.
Era domingo de manhã, tinha dormido pouco.
E, regra geral, sou literal. Acredito no que me dizem.
Não percebi logo que se tratava da úniva espécie de ursos.
Mas só há um urso na América Latina?, perguntei.
Fiquei preocupada: se é o único urso,
Como é que se vai reproduzir?
(O que pensei. Mas tive vergonha de dizer, foi: com que animal.)
Podiam ao menos levar-lhe outro urso, pai,
um urso europeu, por exemplo,
para o urso americano não se sentir tão sozinho.

O meu pai nem teve tempo de me responder.
É assim na televisão como na vida:
rapidamente, entrou outro urso.


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NOVIDADE LIVRO: "Bambino a Roma" de Chico Buarque

 

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WOOKACONTECE: Viva o Dia da Língua Mirandesa!



Há precisamente 26 anos, a 17 de setembro de 1998, a Assembleia da República aprovou o diploma que reconhece a língua mirandesa como segunda língua oficial portuguesa. E hoje, como ano após anos, celebra-se esta língua que orgulha não só mirandeses, como deslumbra cada vez mais pessoas por todo o país. As editoras dão também voz à língua mirandesa, e nós vimos deixar algumas sugestões de leitura para que descubra como é bonita, sonora e única – se até Astérix fala mirandês!...



Uma das pessoas que mais fez em prol da vitalidade da língua mirandesa foi Amadeu Ferreira, autor e tradutor de uma vasta obra em português e em mirandês, sob diferentes pseudónimos. A primeira obra publicada simultaneamente em português e mirandês, da sua autoria, é Tempo de Fogo, uma narrativa centrada à volta de m frade homossexual que queimado às ordens do Tribunal da Inquisição, condenado por breves amores de juventude na universitária Salamanca dos fins do século XVI.
Para conhecer a história do mirandês, o ideal é mesmo ler Mirandés - Stória Dua Lhéngua i Dun Pobo (com correspondente edição em português). Faz parte do Plano Nacional de Leitura mas é interessante para qualquer idade. Conta a história do povo mirandês na própria língua em banda desenhada, e é uma obra de José Ruy, com a coordenação e tradução para mirandês de Amadeu Ferreira.




Já imaginou ler Os Lusíadas em mirandês? Entre as traduções de Amadeu Ferreira para a língua mirandesa destacam-se Os Lusíadas integral, de Luís Vaz de Camões – sem dúvida um desafio a encarar com força de vontade, com o original em português ao lado!
Para uma leitura mais simples e breve, deleite-se com a edição comemorativa dos 25 anos da publicação de Os Lusíadas em BD, do ilutrador José Rui, publicados, para a ocasião, em mirandês: Ls Lusíadas – Banda Zenhada, pois claro.




Os pessoanos certamente terão curiosidade em ler Mensaige – aqui entende-se bem: é Mensagem, de Fernando Pessoa – em mirandês. É a primeira obra do poeta a ser traduzida e editada na nossa segunda língua, por Francisco Niebro (sim, é um dos pseudónimos de Almeida Ferreira). E acreditamos que Pessoa iria deleitar-se a ver a sua obra assim versada.




Se procura algo bem divertido para ler em mirandês, saiba que o famoso intrépido gaulês Astérix já se rendeu aos encantos desta língua antiga. Este verão, chegou às livrarias La Spadanha Branca (O Lírio Branco). Na 40ª aventura de Astérix, a aldeia gaulesa enfrenta um novo tipo de inimigo: o stress! Cansado das rotineiras pancadarias contra os romanos, o pequeno herói resolve explorar o mundo das artes marciais, aprendendo técnicas de luta que envolvem mais meditação e menos poções mágicas. Será que os nossos gauleses vão trocar os combates épicos por posturas zen? E como vai Obélix sobreviver sem o seu javali diário? Uma mistura hilariante de filosofia oriental, romanos derrotados de forma… inesperada, e, claro, muitas risadas!
E há mais quatro livros desta série em mirandês: Astérix – Galaton, Astérix I L Alcaforron, La Filha de Bercingetorix e Astérix, L Goulés.



Descubra a sonoridade e a beleza desta língua única: comece já por aqui!