Sinopse: O Inverno do Nosso Descontentamento, o último romance que Steinbeck publicou, em 1961, é dominado pelos temas sociais, que conferiram à obra do autor uma unânime ressonância internacional. O núcleo do romance é o dinheiro, a hipocrisia e os falsos valores, a crítica serena mas implacável às engrenagens de uma sociedade que mutila o homem no que ele tem de mais autêntico. Na ponta final da sua carreira literária, John Steinbeck reencontra o fulgor de As Vinhas da Ira, o seu romance mais famoso, galardoado em 1940 com o Prémio Pulitzer.
Comentário
É a terceira obra que leio deste autor e a qualidade da sua escrita elevou-o para meu autor preferido. Identifico-me com a personagem de Ethan, com o seu raciocínio e a sua vontade de querer ser alguém de bem na comunidade onde vive. Quanto ao relacionamento de Ethan com a sua esposa Mary, também noto semelhanças com o meu casamento, e sim, às vezes precisamos de férias dos filhos 😅.
Ethan é uma pessoa que pensa muito sobre tudo e mais alguma coisa, por isso não consegue noites descansadas de sono, ao contrário de Mary (v. pág. 48,49 e 58); as reflexões que ele faz sobre o sucesso moral dos negócios (págs. 106 e 107), assim como as observações das pessoas e situações (págs. 114-115 e capítulo VIII), mostram o seu bom caráter.
A descrição que ele próprio faz do sótão da sua casa é muito boa, mostrando que não é um espaço esquecido, é sim usado e limpo com frequência (v. pág. 82 e 83). E para ele é importante ganhar dinheiro de forma justa, como tentou ensinar aos filhos (v. págs. 85 e 295 até ao fim). Compreendo a sua atitude de desespero, até porque ele próprio mexeu uns cordelinhos para sabotar os grandes planos para a cidade e duas pessoas acabaram por ser afastadas... Não creio que tenha agido com segundas intenções, mas houve consequências na mesma, há sempre.
De todas as personagens que socializam com Ethan e tentam suborná-lo, destaco a Margie Young-Hunt que tem o capítulo XII dedicado à sua pessoa. Vale a pena ler.
Recomendo a leitura deste livro, é muito bom! 👍
Citações
"Uma manhã inteira não é uma coisa, mas muitas. Muda não só em intensidade de luz, crescente primeiro, para declinar depois, mas em textura, em humor, em tom e em matizes, deformada pelos mil pormenores de uma estação, o calor ou o frio, a calmaria ou os diversos ventos, diferindo nos cheiros, nas construções feitas pelo gelo ou pela erva, nos rebentos, nas folhas ou nos ramos secos e nus. E como o dia muda, assim mudam também os seus atores: insetos, pássaros, gatos, cães, borboletas e pessoas." {pág. 23}
"New Baytown é um sítio encantador. O seu porto, que foi grande no passado, é protegido das borrascas de nordeste por uma ilha próxima da costa. A cidade tem as casas espalhadas nas margens de um conjunto de rias, que se alimentam das águas do mar, e que na maré baixa ficam reduzidas a uma rede de canais estreitos que vai do porto até ao mar. Não é uma aglomeração concentrada. À exceção das grandes casas dos baleeiros das épocas passadas, só se veem vivendas bem conservadas no meio das velhas árvores." {capítulo XI}
Passaram-se 50 anos sobre o primeiro dia do resto de muitas vidas. O 25 de Abril de 1974 foi a maré alta que trouxe de volta a Portugal Sérgio Godinho, na altura um jovem artista e criador que, vivendo pelo mundo fora, navegava na língua e música portuguesas. A liberdade é a palavra e o conceito que mais acarinha e defende e, se hoje «está a passar por aqui», também a ele o devemos. Não se define como cantor de intervenção, já que as suas criações musicais correspondem a uma realidade múltipla, tal como a sua ficção narrativa. Conta que, enquanto letrista, leva as palavras a deitarem-se num leito musical que cria previamente. Enquanto escritor, transporta para os livros a essência lírica e o sentido rítmico das suas canções.No seu mais recente romance, Vida e Morte nas Cidades Geminadas, Sérgio Godinho entretece a paixão entre dois jovens amantes com a dicotomia existencial entre a vida e a morte. A emigração, o fado, a saudade e o sentido de pertença também o permeiam.
O que se segue é uma conversa inesquecível com esta figura maior da música e da escrita, para quem criar e viver são duas coisas complementares, e sem ordem de preferência.
Sinopse: Na década de 1930, as grandes planícies do Texas e do Oklahoma foram assoladas por centenas de tempestades de poeira que causaram um desastre ecológico sem precedentes, agravaram os efeitos da Grande Depressão, deixaram cerca de meio milhão de americanos sem casa e provocaram o êxodo de muitos deles para oeste, rumo à Califórnia, em busca de trabalho. Quando os Joad perdem a quinta de que eram rendeiros no Oklahoma, juntam-se a milhares de outros ao longo das estradas, no sonho de conseguirem uma terra que possam considerar sua. E noite após noite, eles e os seus companheiros de desdita reinventam toda uma sociedade: escolhem-se líderes, redefinem-se códigos implícitos de generosidade, irrompem acessos de violência, de desejo brutal, de raiva assassina. Este romance que é universalmente considerado a obra-prima de John Steinbeck, publicado em 1939 e premiado com o Pulitzer em 1940, é o retrato épico do desapiedado conflito entre os poderosos e aqueles que nada têm, do modo como um homem pode reagir à injustiça, e também da força tranquila e estoica de uma mulher. As Vinhas da Ira é um marco da literatura mundial.
Comentário
É a segunda obra que leio deste autor e a forma de escrita lembra-me William Faulkner que, através das palavras, também expõe os males da sociedade, descrevendo situações e pessoas. Steinbeck faz um retrato fidedigno dos problemas que assolaram as populações vítimas do "dust bowl", a experiência literária que o autor proporciona é tão envolvente que eu senti-me uma okie totalmente injustiçada e sem saber exatamente o que fazer para sobreviver. Aquilo parecia o Velho Oeste onde o calor do deserto era insuportável e a falta de água potável uma constante.
O ponto central da história é a demanda da família Joad por encontrar na Califórnia uma casa e trabalho. Nós, leitores, não vemos isso a acontecer. A trama fica em suspenso. A viagem em si é bastante dura com vários percalços ao longo do caminho, mas a esperança nunca morre. Steinbeck valoriza o coletivo família em vez de um indivíduo único - quando uma personagem se torna independente da família, simplesmente desaparece - como se as dificuldades só pudessem ser ultrapassadas em conjunto. É um drama com notas culturais interessantes como por exemplo a multiplicação das áreas de serviço/bombas de gasolina e dos stands de automóveis, a coca-cola que já era uma bebida comercializável, o conceito novo de retrete (sanita com autocolismo) e a modernização da agricultura com o uso do trator.
Partilho uma citação do livro sobre a estrada 66, a tão icónica e emblemática estrada norte-americana:
"A 66 é o caminho de um povo em fuga, a estrada dos refugiados das terras da poeira e do pavor, do trovejar dos tratores, dos proprietários assustados com a invasão lenta do deserto pelas bandas de norte e com os ventos que vêm ululando aos remoinhos do lado do Texas, com as inundações que não traziam benefícios às terras e ainda acabavam com o pouco de bom que ainda possuíam. De tudo isso os homens fugiam e encontravam-se na Estrada 66, vindos dos caminhos tributários e das estradas sulcadas de calhas e de marcas fundas de rodas, que cortavam todo o interior. A 66 é a estrada-mãe, a estrada do êxodo." {in As vinhas da Ira de John Steinbeck}
Um caso arquivado ganha nova vida quando o corpo de uma jovem mulher é encontrado na floresta. Ela foi morta e desmembrada de uma forma que lembra estranhamente a assinatura do ass...
King oferece-nos agora uma coleção de doze histórias que mergulham fundo na parte mais sombria da vida. Escritas por um dos mestres incontestáveis da literatura contemporânea, est...
Todos esperavam que Violet Sorrengail morresse durante o seu primeiro ano na Escola de Guerra de Basgiath - Violet inclusive. Mas a Debulha foi apenas a primeira prova impossível, ...
Ana é uma escritora de sucesso. Os seus livros, campeões de vendas, fazem sonhar (e suspirar) as suas leitoras, com ingredientes infalíveis: homens de sonho, paisagens maravilhosas...
Durante anos, imaginei o que aconteceria quando contasse tudo isto, quando cravasse a mão no peito para extrair a culpa lá de dentro. E posso concluir que foi como arrancar o meu p...
Tricia e Ethan, recém-casados, estão à procura da casa dos seus sonhos. Quando visitam a remota mansão que pertenceu à Dra. Adrienne Hale, uma psiquiatra de renome que desapareceu ...
De um modo inteligente e tocante, e baseado num caso verídico, este livro fala de como olhamos para o outro e do que acreditamos ver nele. No Wisconsin – onde está como escritora-c...
Sinopse: O dinheiro parado num depósito à ordem e a prazo não rende. Pelo contrário, a cada dia que passa você fica mais pobre. É preciso pôr o seu dinheiro a trabalhar para os seus objetivos. E, não, não precisa de ser rico, nem de ter uma grande poupança. Com o que tem, Bárbara Barroso, especialista em finanças pessoais, explica-lhe como orçamentar, planear, investir e multiplicar o seu dinheiro.
Neste livro vai aprender, entre outras coisas, a construir o seu fundo de emergência; aprender que a 8.ª maravilha do mundo são os juros compostos; quais as ações que deve ter em carteira; como distinguir os diferentes PPR e escolher o melhor para si.
Ao longo de 7 passos simples, Bárbara Barroso apresenta-lhe um plano com as estratégias e as ferramentas de que precisa para atingir a tão desejada liberdade financeira. Antes de mais, tem de mudar a forma de se relacionar com o dinheiro: esqueça a sua mente de pobre e reprograme a sua mente para pensar como um rico. Depois é preciso fazer um planeamento financeiro, aprender a poupar de forma eficaz, diversificar as suas fontes de rendimento, investir de forma inteligente e criar uma carteira de investimentos. Os resultados não vão tardar a aparecer.
Comentário
Um livro que nos abre os olhos para o mundo das finanças. Com uma linguagem clara e direta, Bárbara Barroso dá dicas cruciais para tomarmos as rédeas da nossa vida financeira. Confesso que aprendi muita coisa e já passei à prática. Até agora não me interessava a fundo com estas questões de finanças e poupanças; mas a minha mentalidade mudou, assim como a minha relação com o dinheiro.
Recomendo vivamente a sua leitura! 👍
Referências
📌 Ler entrevista com a autora no blogue WOOKACONTECE aqui.
Este ano assumi o compromisso pessoal de obter todos os livros da escritora francesa Juliette Benzoni editados em Portugal 💜 É uma das minhas autoras favoritas e, como infelizmente já faleceu, não se prevê novas edições das suas obras. Assim, desde janeiro até hoje fui adquirindo em plataformas de compra/venda de livros usados, como o OLX, a Vinted e o site Trade Stories.
O romancista norte-americanoPaul Auster, autor de obras como "A Trilogia de Nova Iorque" e "Cidade de Vidro", morreu esta terça-feira aos 77 anos na sua casa, em Nova Iorque, vítima de cancro do pulmão. Em declarações à TSF, Paulo Branco, produtor português de cinema, recorda Paul Auster como um "génio", uma pessoa com uma "enorme generosidade" e com um "grande fascínio pelo cinema".
Em Portugal, Paul Auster tem grande parte da obra publicada, em particular os romances, como "Mr. Vertigo", "Palácio da Lua", "Música do Acaso", "Leviathan", "A Trilogia de Nova Iorque", "Timbuktu", "O livro das ilusões", "As loucuras de Brooklyn", "O homem na escuridão" e "4 3 2 1", com o qual foi finalista ao Booker Prize.
Assinou a realização de um par de filmes, incluindo "A vida interior de Martin Frost" (2007), rodado parcialmente em Portugal.
Os seus romances, ensaios, diários e filmes, criaram-lhe uma aura literária singular desde os anos 1990.
Há três anos, por ocasião do lançamento do seu novo livro, Um Homem em Chamas – A Vida e a Obra de Stephen Crane, biografia dedicada a um herói literário esquecido, deu esta entrevista à VISÃO, que agora republicamos. Nela, evoca outras paragens: a América de Biden, a velhice que o apanhou de surpresa e o falhanço da literatura em salvar o mundo:
(pequeno excerto)
Um Homem em Chamas assemelha-se, muitas vezes, a uma masterclass sobre a escrita. De que forma os ensinamentos contidos em 800 páginas chegarão a uma geração “educada” com 120 caracteres? Bem, já posso dizer que sou historicamente irrelevante [risos]. A atenção que este livro vai ter agora é seguramente menor do que seria se tivesse sido editado há 15 anos. O mundo mudou, especialmente nos EUA: a cultura já não quer saber da literatura. Não é que não tenhamos grandes escritores e leitores. Mas, por várias razões complicadas, que nem conseguimos abordar aqui, a literatura e os escritores já não fazem parte da conversa nacional; é tão simples quanto isso. Na maior parte dos países ocidentais, assim como na Ásia, os povos conhecem os escritores dos seus países, debatem as suas obras, estão interessados em ouvir o que têm para dizer sobre o que se passa à nossa volta, os autores estão presentes na televisão e na rádio e escrevem artigos nos jornais. Na América, ninguém quer saber: se eu perguntar o nome de um romancista americano a alguém na rua, não saberia do que estou a falar. Há tantas formas novas de distração que a ideia de estar sentado e ler um livro com 800 páginas é impensável para milhões de americanos.
Participou na plataforma Writers Against Trump que, após as eleições presidenciais, alterou o nome para Writers for Democratic Action. Neste momento, há leis como a do aborto a serem revistas, livros a serem proibidos em escolas… Quais são os seus sentimentos atuais em relação à América? Estamos divididos ao meio, e nunca vivi um momento tão assustador como este. Estamos em perigo de nos tornarmos um país autoritário, e isso seria uma tragédia. A América nunca foi o país ideal que gostamos de promover no resto do mundo. Mas, nem que fosse por princípio, nós defendíamos essas ideias. Agora, estamos a perdê-las rapidamente. O meu único consolo é que nós somos mais do que eles. A maioria não deseja isso, mas uma minoria quer dar cabo de tudo – e é perigosa. Parte do problema na América é que a forma como o país foi construído permite que a minoria controle o Estado. Hoje, ainda estamos a enfrentar estes impedimentos constitucionais estruturais, e a direita radical está a aproveitar-se destas falhas no sistema para assumir o controlo sobre a maioria. Isso é muito frustrante.