Sinopse: O teólogo Karl Rahner assinou uma famosa interjeição que dizia: "o cristão do futuro ou será um místico ou nada será!". Mas temos de entender-nos sobre o que é a mística. Uma interpretação muito disseminada encara-a como uma prática elitista que consiste num desligar-se do mundo para reentrar no espaço interior. A narrativa bíblica, porém, afasta-se propositadamente das versões espiritualistas. Ela defende uma compreensão unitária da vida, não deixando dúvidas sobre o necessário envolvimento dos sentidos corporais na expressão crente. Os sentidos do nosso corpo abrem-nos à presença de Deus no instante do mundo. Eles são grandes entradas e saídas da nossa humanidade e da nossa fé. A mística do instante reenvia-nos para o interior de uma existência autêntica, ensinando-nos a ser realmente presentes: a ver, a ouvir, a tocar, a saborear, a inebriar-nos com o perfume sempre novo do instante.
O livro "A Mística do Instante" foi galardoado com o Prémio literário Res Magnae 2015, um importante prémio italiano atribuído no campo da ensaística. José Tolentino Mendonça foi o primeiro português e o único não italiano, até à data, a receber este prémio.
Comentário:
Nesta obra o autor fala da mística do instante (ou dos sentidos) em contraposição com a mística da alma; fala de um projeto de espiritualidade que passa por encontrarmos uma nova relação com o tempo e com o amor. O autor fala da sociedade do cansaço em que vivemos e da necessidade de combater a atrofia dos sentidos ➡️ causado pelo sofrimento humano, pelo excesso de comunicação, pelo luto, pelo aprisionamento da vida pela rotina. É importantíssimo redescobrir os sentidos (o tato, o paladar, o olfato, a audição e a visão) pois eles são uma porta para nos ligarmos a Deus!
Pessoalmente, considerei o livro bastante esclarecedor. 😊 Recomendo a sua leitura!
Citações:
"(...) este começo do século XXI, do ponto de vista das patologias marcantes, é fundamentalmente neuronal. O sol negro da depressão, os transtornos de personalidade, as anomalias da atenção, a síndrome galopante do desgaste ocupacional que nos faz sentir devorados e exauridos por dentro à maneira de uma terra queimada, definem o difícil panorama da década presente e das que virão."
"Os sentidos do nosso corpo abrem-nos à presença de Deus no instante do mundo."
"Precisamos verdadeiramente de reaprender o que o sábado ou o domingo significam. O corpo deve encontrar-se não só na atividade, mas também no repouso, libertar-se da pressão do imediato, do peso das solicitações, abrindo-se em certos instantes sem porquê..."
"O amor é o verdadeiro despertador dos sentidos. As diversas patologias dos sentidos mostram como a nossa vitalidade hiberna quando o amor está ausente. (...) Amar significa abrir-se, romper o círculo do isolamento, habitar esse milagre que é conseguirmos estar plenamente connosco e com o outro."
📚
Este livro conta para o desafio Mant'Anual 2023 na categoria "Um livro de ensaio".