Sinopse: Upstairs, Downstairs é o nome duma série televisiva que o público de vários países já aplaudiu. Entre nós, os telespectadores puderam apreciá-la sob o título de "A Família Bellamy", e assim travaram conhecimento com os vários personagens que surgem no entrecho da série de volumes em que se desenrolam as peripécias familiares duma casa inglesa da época Eduardiana, e dos quais este é justamente o primeiro. E ter-se-á apercebido, sem dúvida, da divisão existente entre os dois mundos que ali coabitam: o do andar nobre e o do piso inferior. No primeiro, Lady Marjorie, com o seu fino porte aristocrata, governa a casa, planeia a carreira política do marido, Sir Richard, e ocupa-se do futuro dos seus dois filhos.
No segundo, sob a batuta conscienciosa do Sr. Hudson, evolui a criadagem da casa: Rose, Sarah, a Sr.ª Bridges, Emily…
Dois mundos separados pelo muro da distinta condição social, mas que se interpenetram no viver quotidiano com os seus dramas, os seus problemas, os seus segredos…
Através das páginas deste volume e dos outros que se lhe seguirão, o leitor ficará com uma imagem bem exacta dum certo tipo de sociedade, duma certa maneira de viver, duma certa filosofia de vida. Para além, naturalmente, das histórias simples em que tudo isso é traduzido e que lhe proporcionarão uma boa leitura para as suas horas de ócio.
Comentário
E assim entrei no universo da família Bellamy 😍 Digo universo porque, para além da série, há mais livros... este que li é apenas o primeiro. Assim que tiver oportunidade, procurarei os volumes seguintes e verei as temporadas todas da série.
Pessoalmente, adoro este tipo de romance histórico. A narrativa está super bem construída, assim como os personagens e o enredo. É tudo muito real e verídico. Adoro! O contexto espaço-temporal escolhido também me agrada bastante, porque foi uma época de grandes mudanças e o prelúdio da Grande Guerra Mundial.
Há um fator que para mim é inédito, nunca vi uma série passar a livro, normalmente é o contrário. 😉 Ora, o sucesso foi enorme, tanto da série como dos livros, que marcou a indústria cinematográfica e deixou um legado, inspirando outros a criarem novas obras baseadas em "Upstairs, Downstairs".
Citações
Decidi partilhar aqui algumas citações relacionadas com a condição social existente na época: a figura da criadagem e seu significado (que até o próprio nome dado à nascença é descartável) e a posição da mulher na sociedade em geral (quer seja pobre ou rica).
"Clemence Dumas ficou surpreendida com esta decisão que de maneira alguma tinha previsto. Mal ela sabia que ao escolher 'Sarah' para nome Lady Marjorie lhe estava a fazer um elogio: quando era menina tinha gostado imenso de um cão chamado Sarah. - O meu nome é Clemence, minha senhora. - Clemence não é nome de criada. Vá com Hudson, Sarah, e lembre-se que está aqui a título de experiência".
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"Se eles [os criados] fizessem alguma coisa idiota como roubar, ou ter um bebé, eram despedidos; se adoecessem ou tivessem complicações, ajudava-os, mais de um ponto de vista prático que humano. Se uma criada estava doente isso representava um prejuízo e, portanto, quanto mais depressa se pusesse boa outra vez e capaz de cumprir as suas obrigações, melhor para todos."
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"Não preocupes a tua linda cabeça - continuou o Sr. Bellamy - isto são assuntos de homens.
(...) Lady Marjorie gostaria de ter sido um grande procônsul ou ministro. Havia tido o azar de nascer mulher num mundo que era dos homens. (...) - Governas a casa excelentemente - observou o marido em voz consoladora. - Os criados é que a governam e à sua maneira. As coisas vão andando e não sei nada do que se passa. - Respondeu ela, recusando-se a ser consolada."
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"Os criados das grandes casas de Londres eram na sua maior parte pessoas tristes e isoladas. Nunca se sentiam capazes de levar uma vida normal porque, embora alimentados e vestidos e geralmente muito mais bem tratados que as classes mais pobres lá fora, esperava-se deles que aceitassem condições quase de escravatura. Uma criada só muito raramente esperaria ver-se casada antes de atingir idade avançada, se é que conseguia casar-se; isto acontecia porque não havia nenhuma senhora que quisesse ter ao seu serviço uma mulher casada. Além de que a sua pobre soldada e as suas limitadas perspectivas faziam das raparigas quem eram criadas as criaturas menos elegíveis de todas as mulheres; aos olhos dos machos elas só prestavam para a cama."
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"- Não estou interessada no género de vida que temos aqui! A viver tudo através deles, como se nós não fôssemos também de sangue e carne. Como se fôssemos uma espécie qualquer de vegetais sem sentimentos e dependentes deles para tudo. A falar deles todo o tempo, a colar os bocadinhos das cartas deles outra vez só para as podermos ler e ficar excitados. (...) Vestindo-as dos pés à cabeça - continuou Sarah - Admirando o luxo deles, vestindo-lhes as roupas. Não quero uma vida em segunda mão. Quero uma vida real e mesmo minha."
Referências
📌 Artigo na Wikipédia, em inglês, sobre a série britânica dos anos 70.